segunda-feira, 31 de outubro de 2016

MEDITAÇÕES XLIV


De quem amas não queiras nada.
Aquele que pede abdica do reino
que por direito inato é seu.

Sê assim uma espécie de flor
aberta à luz que por bem surgir,
tão certa de que desse sol
nunca dependerá o seu sorriso.

Ou antes um pássaro, se souberes
das asas que ao peito trazes,
cavalgando o vento na toada
duma canção sem começo ou fim.

Sublimes são as árvores, sem céu
a desbravar ou terra por descobrir,
e tão aptas a oferecer o melhor de si
numa doçura que não exige louvor.






(Fonte: Getty Images)


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

MEDITAÇÕES XLIII


Viver a vívida solidão do mundo 
não é ser como uma taça,
seca e dura de tão vazia
que se encontra.

Viver a vívida solidão do mundo
é permitir somente que o fluxo
se não interrompa:
ora vazia e transbordante,
ora cheia e minguando.

O ser, contudo, deixará
de ser a taça que aparenta.
Diluída num mar infindo,
como poderá a gota dizer
de suas nítidas fronteiras?