terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Os caminhos para o coração


Em anteriores publicações, por diversas ocasiões recorri à expressão “os caminhos para o coração” e frisei a necessidade de tais vias serem encontradas e percorridas pelo próprio indivíduo que as busca. Questionamos, por vezes, as hipóteses que residem em nossas mãos, aquelas que capazes seriam de implementar (ou auxiliar) a mudança que tanto desejaríamos ver realizada, em nossas vidas pessoais ou em nossas comunidades, mas estacamos no instante em que indagamos por que meios ou simplesmente pelo começo de tal acto. Isto, contudo, já em outras épocas foi discutido e exposto entre nós, no auge dessa bela simbiose entre autor e leitor, duas partes distintas que, no fundo, tanto têm em comum. Por isso, conhecemos a seguinte: se desejarmos efectuar uma mudança, ela deverá ocorrer em primeiro lugar dentro de nós próprios, eclodindo de nossos valores e crenças (e da forma como os assumimos). Mas como nos modificamos verdadeiramente? O processo é longo e contínuo, sim, embora a resposta esteja nos caminhos que nos guiarão ao âmago de nosso coração. Um indivíduo vale por si só, pelo que a mesma fome nem sempre é saciada pelo mesmo alimento. Assim, surge o desafio de convivermos com a diferença (que nos exige consideração e aceitação). É claro que quem se encontra mais desperto para certas questões, ocupa um lugar mais alto e de maior responsabilidade. Afinal, é alguém que poderá transmitir aos demais as peripécias de seu caminho, ainda que os restantes o devam cumprir por si sós. Isto é: quem se encontra numa posição mais elevada, pode relatar a quem se segue a paisagem que este observa, embora cada um tenha ainda que trilhar os últimos metros e ver por si próprio o cenário que somente se anuncia a partir daquela posição. E assim se identifica uma sucessão, um gradual encadeamento de acções – ou não se estivesse a construir um legado onde cada um poderá moldar a visão de acordo com o seu olhar, sem esta ser díspar da imagem dita global (uma vez que existem aspectos que são deveras universais, alterando-se somente a forma como os recebemos, entendemos e, mais tarde, aplicamos - mas todas elas mais não são do que diferentes meios de alcançar o mesmo fim).

São os conscientes que poderão dar indicações (sim, essa é a sua responsabilidade) nesse processo de busca interior e sugerir moldes de construção. Nada mais do que ensinar para aprender nesta imensa escola real que a cada dia nos apresenta uma nova lição. Quem já sentiu tal prova, apesar de ainda continuar seus processos de crescimento interior, possui um saber peculiar e encontra-se apto a transmiti-lo (o tesouro singular que todo o caminhante possui). E sabe que deverá deixar todo aquele que o procura ou o questiona a encontrar e percorrer o seu próprio caminho interior. Não trilhamos o rumo de um outro alguém, antes aquele que nosso é, onde por diversas etapas apenas descobrimos e assumimos nossa real identidade (por mais árduo que seja). Uns, como é óbvio, poderão tomar o caminho da direita e, assim, alcançar o interior de seu coração; outros, seguirão pela esquerda e serão bem sucedidos; alguns ainda decidirão seguir o rumo do meio para, passando por alguma neblina inicial, encontrar o que buscavam. Mas jamais se descartarão todos aqueles que, intentando encontrar seu coração, acabam por descer pelos pulmões, tomar a rotunda do estômago e, saindo na saída que diz “fígado”, subir em direcção ao seu tesouro.  Nunca importa o tempo dispendido; tudo é válido e deverá ser respeitado, nunca imposto. Assim evoluiremos, todos, cada um no seu devido tempo, como um doce fruto que amadurece lentamente, até atingir a sua plena maturação – o equilíbrio perfeito de seus açúcares. Superada a crucial etapa, mais desenvoltos, todos nós, cada qual na sua vez, estaremos mais aptos às mudanças: as que neste momento se encontram em decursos e aquelas que ainda aguardam a sua implementação. E eis que se inicia o processo interior, onde muitas outras questões irromperão e em outras tantas situações seremos testados em carácter, crença e valor. E depois? Será esse o fim do Caminho? Jamais! No final de cada etapa, logo uma outra se revelará… Embora nada aqui se assuma como punição ou penitência, apenas vias de experiência e aprendizagem. Mas, em breve, talvez quando menos esperarmos, de corações ao alto, luzidios e plenos, após o completar de sua interior transmutação, toda a exterior paisagem se aprontará, diante de nós, para banhada ser pela alva luz de uma Nova Manhã. E aí teremos o resultado de nossas acções.


Pedro Belo Clara.



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