quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Etapas e Desafios

A espera, o período de passividade, é um ardil complexo de entender e de assumir, nem que seja pela sensação de que algo nos escapa e de que estamos imersos numa tortuosa escuridão. Isto serão as sensações de alguém duvidoso, aquele que ainda procura assumir os novos entendimentos que lhe foram concedidos pelas experiências do Caminho, não daquele que se mostra já sabedor e, como tal, confiante e sereno perante o porvir. Não há qualquer distinção entre ambos, senão a diferença entre aquilo que já foi ultrapassado e aprendido durante a peculiar vivência. De facto, quem dobra uma esquina observa com mais clareza e amplitude a rua que a partir daí se desenvolve do que aquele que ainda não alcançou tal local. Este aspecto jamais deverá dar a sensação de que um alguém está a ser colocado na dianteira do percurso, especialmente por motivos ditos (ou entendidos) dúbios; o respeito e a tolerância entre os demais são a base de todo o tratamento – uns adiantam-se e outros atrasam-se no caminho, pois todos possuem o seu tempo; ninguém é melhor que seu semelhante, apenas… diferente e único. E é um direito ser-se respeitado e tolerado por isso.

Ainda assim, os tempos de espera, ramificações de um “tempo de trevas” (embora relembre que “da obscuridade nasce a luz”) são comuns a todos nós. A única alteração que se opera é ao nível da percepção, do entendimento e, posteriormente, da acção (ou da forma de actuação). Afinal, nem todos nós sabemos o que fazer com a água da chuva: há quem se recolha, quem se deixe levar por sua diluviana corrente, quem se afogue, quem pega em sua vasilha e a encha com tal bênção, ciente de que essa será a solução para os dias em que o sol queimar (pois, ainda que chova, sabe que um sol tórrido acabará por despontar). Assim, se colocássemos dois caminhantes em diferentes estágios de aprendizagem (ou em moldagem de carácter, se preferirem) num qualquer troço da estrada existencial, no seio de uma noite sem lua, desprovidos de qualquer fonte de luz, como ambos reagiriam? Se um deles teria de esboçar uma enorme passada na sua aprendizagem, o outro deveria apenas aplicar todas as artes que lhe haviam sido transmitidas, aquelas que suas cicatrizes não o deixariam olvidar. Provavelmente, o primeiro iria questionar todas as bases do seu pensamento e da sua crença, inquietando-se, imergindo numa treva obscura e aterrorizante; o segundo saberia, no mais profundo de si, que em breve o sol nasceria e que toda aquela escuridão se cessaria. Assim agiria quem encontra, entende e confia em sua luz interior. Mas todos caminhamos rumo ao mesmo destino (ainda que tal intenção pareça ser inconsciente), pelo que, no devido momento, chegará a recompensa pelo esforço empreendido na tentativa de aplicação e na assimilação dos meios.

Todo o desafio que nos assalta de rompante acontece numa altura propícia, seja para nos testar ou para nos fornecer a preparação necessária para as etapas vindouras. Cada etapa é essencial ao nosso desenvolvimento e fortalecimento; ainda que nos sintamos incapazes, cada desafio ocorre somente no momento em que nós possuímos a arte de o ultrapassar! Somos guiados por uma Força estranha e bela, o Sopro do Caminho – ou uma outra qualquer nomenclatura que lhe queiram atribuir –, uma Força que, mesmo desacreditada, reside também em nós, criando as hipóteses de cada ocorrência para que a Consciência possa ditar as suas direcções. Sejam elas quais forem, todo o dia será propício a uma auto-análise, olharmo-nos bem e nos entendermos ainda melhor; se nos mantivermos abertos, serenos entre as mudanças, toda a diversidade florescerá diante do nosso Ser. Hoje somos mais sabedores do que Ontem fomos, mas não tanto como Amanhã ainda seremos – se nos predispusermos a tal, o eco destas palavras acabará por se concretizar.


Pedro Belo Clara.

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