segunda-feira, 27 de junho de 2011

Vias

É extraordinariamente fácil e comum verificar como, em determinados momentos, o indivíduo opta por uma vitimização pessoal, pelo auto-sacrifício da harmonia interior, pela auto-flagelação mental e emocional. Como nos poderemos revelar assim tão fáceis de capturar? Esse é mais um dos ardis com que somos tentados. Assim como é árduo permanecer fiel ao que somos, serenos e firmes, também é custoso assumir essa mesma posição e defendê-la, serenamente e firmemente sublinhando a razão do pacífico combate travado em nome daquilo que mais almejamos. O quotidiano está recheado de métodos e de formas que nos tentam conduzir pelas vias da vitimização; contudo, ao serem seguidas, rapidamente verificamos que não estamos a ser guiados a bom porto, nem a nenhum lugar significativo (embora haja quem, de tão embrenhado que está nos antros de tal sentimento, se viciou nele e perfidamente o utiliza como um jogo fácil, uma forma de obter sempre aquilo que deseja dos outros).

Não será este, portanto, o meio utilizado para o alcance da verdade que é procurada, apenas a ilusão de que, por piedade, tal nos será entregue. É fácil tropeçar em armadilhas assim; todos somos caminhantes e todos, sem excepção, tropeçamos em algo do género. Mas o clarividente possui uma consciência activa e, como tal, questiona – na consequência de tal acto estará sempre a resposta. Apesar daquilo que foi já referido, é importante notar a existência de uma vitimização consciente e não consciente. É obvio que se nesta última a condição é assumida de uma forma cega, compelida talvez por algum sentimento “menos nobre” (o que jamais significa não necessário), na primeira reside uma vontade propositada e deliberada em manchar o nosso Ser, furtando atenções alheias. Isto fora já referido, mas impôs-se aqui uma comparação esclarecedora.

A via inconsciente aparenta, de facto, ser mais complexa de assumir e ainda mais de manter, mas é ela que, após uma análise cuidadosa e imparcial, concluímos sempre ser de proveito e dignidade maiores, por analogia. Todos temos roupagens, mas nossa é a decisão de, enquanto rumamos em direcção daquilo que almejamos ser, despojarmo-nos, calmamente, de todas elas, uma após a outra, no momento em que sentirmos ser adequado, até que a Verdade habite os recantos de um ser em harmonia com a sua matéria e o seu éter.


Pedro Belo Clara.



quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Cura

O entendimento – e a não menos importante aceitação – do nosso terreno e de suas fronteiras, é um passo deveras importante no percorrer de todo o Caminho. Em anteriores ocasiões, tive a oportunidade de me debruçar e de partilhar perspectivas sobre algumas vertentes deste aspecto. Contudo, pretendo agora expandir um pouco mais o raio de acção e desvendar um propósito mais abrangente.

A aceitação dos nosso limites, portanto, pode revelar-se um processo árduo de executar e algo vagaroso em sua desenvoltura mas, quando concluído, apresenta-se como o catalizador da consciencialização de um Amor-próprio, um dos ramos do Amor Universal / Incondicional. No fundo, quando materializamos a Vontade, transformando-a em algo mais concreto, e a Revelação, como por magia, se manifesta, abraçamos a nossa Essência mais pura – eis o encantador processo a que me refiro. Assim, oculto por entre os parâmetros dessa aceitação, reside a premissa de algo ainda mais universal: a Cura, em todos os demais aspectos. Evoluir como Seres que somos, mental e emocionalmente, consiste em curar a Alma que anteriormente era assombrada pelas Trevas (a representação do não-conhecimento), eliminando os demónios (entendam-se assim as emoções mais destrutivas) que perfidamente controlavam os seus actos. Chegar ao ponto de pensar por si próprio e de decidir cada uma das direcções a tomar é a prova suprema de que o Ser assumiu o comando de si próprio! Ou, por outras palavras, encontrou a Luz (conhecimento) em si e consciencializou-se. Este tipo de “renovação espiritual” ou simplesmente de “despertar” tem consequências deveras abrangentes, nomeadamente uma manifestação física de tal acontecimento. Afinal, em “mente sã”, resistente, optimista e sábia, estará sempre um “corpo são”; a aceitação desta e de outras dualidades revela a aceitação do mundo em que vivemos e das normas pelas quais este se rege (em termos extra-políticos e extra-governamentais, claro). A importância desta auto-aceitação e, como tal, auto-cura é inclusivamente crucial ao desenvolvimento de uma comunidade, sociedade, país ou mundo. Ao restaurar o interior restauraremos o exterior, ao curar a Alma curaremos o Corpo, ao amarmo-nos a nós mesmos amaremos o outro – na dualidade residem hipóteses de actuação fantásticas! Ao iniciar esta limpeza, tornar-nos-emos seres harmónicos capazes de, finalmente, entender os efeitos resultantes da sua operação e de caminharmos, juntos, até à aurora dos novos dias. Ao curarmos o indivíduo curaremos o colectivo mas, antes que todas essas portas se possam abrir, a consciencialização assume uma importância crucial.

No entanto, ao olhar do clarividente, o particular é um meio para harmonizar o global; e é essa a raiz de todo o seu trabalho diário, a sua contribuição para uma superior (e tão desejada) elevação da própria Consciência Humana. Elaborando, cada um de nós, a sua parte, grandemente contribuiremos para o alcançar dessa ambiciosa meta. Os céus já se revelam mais claros e no hoje, como sempre, habitam todas as hipóteses de se iniciar tal empreendimento. Curemos, então, cada continente do nosso mundo íntimo, abrindo caminho ao radioso futuro que nos espera, para além deste velho horizonte.


Pedro Belo Clara.




sexta-feira, 3 de junho de 2011

Bonança

Após um longo período de realizações, um tempo de empreendimentos árduos onde cada ensinamento oferecido pelas esquinas do Caminho parecia ser testado em cada curva realizada, o sol que então desponta no nosso horizonte é sereno e encerra em si o silêncio e a espera. Tal é sempre complexo de aceitar, pois confunde cada um dos apurados sentidos do caminhante, preparado já para a próxima etapa do trilho de suas realizações e projectos de peregrino. Contudo, assim como existem dias de chuva e de sol, dias favoráveis ao caçador e outros à presa, também subsistem os dias de longa espera e os de acções – uma elevada sabedoria consiste igualmente na aptidão para os identificar, compreender e aceitar. Há que saber ser activo no momento certo e passivo no instante adequado. Como? Bem, todo o caminhante possui uma bússola, mesmo que raramente a consulte. Já ouviram falar daquele pequeno instrumento que reside em nós, lá bem no centro, ensaiando a cada segundo o pulsar que é o sussurro do seu conselho? Quem não possui coração, não vive; porque não utilizá-lo e confiar em cada gota de sua sabedoria? 

Ainda assim, se os tempos requisitarem uma demora, importa entender que tal não significa estagnação, mesmo que os incessantes ataques de uma deturpada percepção assim o façam crer. Pois, se atentarmos na especificidade das ocorrências, aquelas que povoam o quotidiano de nossos mundos singelos, compreenderemos a lição ofertada pelo silêncio e pela quietude dos elementos: a confirmação de intenções e de crenças. Plantemos a semente e reguemos a nossa árvore! Mas, mesmo assim, temos de aguardar o seu crescimento e, mais tarde, o seu doce florir, para que daí possam advir os mais belos frutos. Entretanto, aproveitemos as bênçãos presentes nesse processo passivo, onde cada afirmação ou ideia planeada jamais será olvidada por essa Energia Infinita e Criadora.


Pedro Belo Clara.